Entrevista com Assistente Social

O Instituto Terre des hommes Brasil segue com a série de entrevistas sobre suas ações no país. Desta vez, conversamos com a Assistente Social, especialista em Abordagem Sistêmica Familiar e assessora técnica, Ana Paula Rodrigues, sobre o projeto de prevenção à violência e promoção da cultura de paz realizado nas escolas do grande Mucuripe.

Fale um pouco sobre o trabalho que você desenvolve no Instituto Terre des Hommes enquanto Assessora Técnica.

A assessora técnica é a responsável por articular, implementar e desenvolver atividades para obtenção do resultado de construir e implementar do “Modelo de Ação que Previne e Protege Crianças e Adolescentes contra Violência Comunitária no grande Mucuripe” do Projeto “Mucuripe da Paz”. Também é corresponsável pela implementação da Política de Proteção de Crianças e Adolescentes do Instituto.

Quais documentos foram produzidos pelo Instituto que norteiam o trabalho desenvolvido na prevenção e proteção da violência contra crianças e adolescentes e para que eles servem?

No projeto Mucuripe da Paz foi produzido o “Modelo de Ação que Previne e Protege Crianças e Adolescentes contra Violência Comunitária no grande Mucuripe” que também foi utilizado por um Grupo de Trabalho (GT) por existir o desejo de sistematizar as experiências desenvolvidas pelos moradores e instituições locais do grande Mucuripe e do grande Vicente Pinzón. O referido documento orienta como proceder para a prevenção à violência comunitária e a proteção de crianças e adolescentes, empoderando- as para sua autoproteção e no fortalecimento da “Rede de Proteção Local” a partir da implementação de procedimentos protetivos e restaurativos.

Ao longo da construção do Modelo alguns temas ganharam relevância, bem como algumas ferramentas metodológicas gerando uma necessidade do Grupo de Trabalho em elaborar fichas técnicas para uma melhor aplicabilidade metodológica do Modelo que são: rede de prevenção à violência comunitária e de proteção a crianças e adolescentes, participação juvenil e prevenção da violência, procedimentos de proteção em âmbito comunitário, mediação de conflitos e círculos de construção de paz. Também fora elaborada uma Rota da Proteção que norteia e orienta o caminho para a proteção de crianças e adolescentes que foi desenvolvido pelos atores comunitários. Hoje, o “Modelo de Ação que Previne e Protege Crianças e Adolescentes contra Violência Comunitária no Grande Mucuripe”, lançado em dezembro de 2019, está na sua segunda edição.

Quais são os desafios enfrentados nas escolas para a prevenção da violência no âmbito escolar?

Diversos são os desafios que permeiam o contexto escolar para prevenção de violências e estes desafios refletem diretamente no (a)s alunos (a)s e profissionais que tem a escola como um espaço de convivência diária. As 05 escolas do grande Mucuripe e Vicente Pinzón, acompanhadas pelo Instituto, estão inseridas num contexto de violência comunitária marcado por violências diversas que vão se configurando e se redefinindo de várias formas, sejam elas: assaltos, furtos, brigas entre membros de organizações criminosas rivais, assassinatos e tráfico de drogas estes são os tipos de violências comunitárias que mais afetam o entorno das escolas e diretamente no comportamento dos alunos.

Para além dessas violências existentes no contexto comunitário a comunidade escolar que também é marcada por conflitos diversos como os alunos com alunos, alunos com professores, problemas familiares trazidos pelo(a)s aluno(a)s ou identificados por profissionais da escola tornando o ambiente escolar um espaço necessário para a prevenção das violências e resolução de conflitos, de formas positivas, evitando novas situações e reincidências. Ao longo desses 04 anos de desenvolvimento do projeto Mucuripe da Paz buscou-se, através da aplicabilidade do “Modelo de Ação que Previne e Protege Crianças e Adolescentes contra Violência Comunitária no Grande Mucuripe”, fortalecer processos formativos para alunos e profissionais das escolas com a implantação de práticas protetivas e restaurativas para tratar de situações de violências e conflitos no contexto escolar, com foco na metodologia dos Círculos de Construção de Paz e o fortalecimento do protagonismo juvenil. Também fora visto a participação de representantes das escolas na Rede de Proteção Local para uma melhor assertividade e acompanhamento junto aos encaminhamentos dos casos de incidentes.

Como os benefícios do trabalho desenvolvido pelo Instituto no Projeto Mucuripe da Paz proporcionam melhoria na qualidade de vidas das crianças e juventudes?

Acredito que através do trabalho desenvolvido pelo Instituto no projeto Mucuripe da Paz proporcionamos oportunidades e possibilidades para as crianças, adolescentes e jovens do grande Mucuripe e Vicente Pinzón. A partir do momento que os adolescentes e jovens se identificam como um promotor da paz multiplicando metodologias que promovem a cultura de paz, os mesmos também fazem uma transformação na sua vida, fazem mudanças no seu contexto comunitário e vão criando perspectiva, sonhos e esperanças tornando-se cidadãos que garantem seus direitos e também exercem sua cidadania. Focamos em trabalhar com pautas positivas com as potências que os atores comunitários (crianças, adolescentes, jovens e famílias) têm, fortalecendo suas habilidades, competências, o seu saber fazer e seu empoderamento para construção de um contexto familiar e comunitário com mais qualidade de vida prevenindo e protegendo crianças e adolescentes de situações de violências comunitárias.

O que te motiva para desenvolver este trabalho? Quais são as perspectivas e os próximos passos?

Acreditar na construção de um mundo melhor para nossas crianças, adolescentes e jovens me motiva a continuar desenvolvendo um trabalho que tem esses sujeitos sociais e suas famílias como protagonistas de suas vidas. As perspectivas para 2020 prosseguem na elaboração de ações que garantam a prevenção e proteção de crianças e adolescentes fortalecendo seu empoderamento para se protegerem de situações de violências comunitárias em seus espaços de convivências, bem como fortalecendo as suas potências, habilidades e competências. Assim esses atores comunitários poderão garantir a melhoria de sua condição de vida, sendo respeitados em seus espaços de participação e tendo os seus direitos valorizados e garantidos.

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