Grupo busca ampliar o diálogo com adolescentes autores de violência sexual

A metodologia do grupo reflexivo tem se espalhado pelo mundo trazendo pacificações sociais e ressignificações das relações de gênero (FOTO: Reprodução/Pexels)
A metodologia do grupo reflexivo tem se espalhado pelo mundo trazendo pacificações sociais e ressignificações das relações de gênero (FOTO: Reprodução/Pexels)

O Brasil registrou cerca de 230 mil vítimas de  de lesão corporal culposa no contexto da violência doméstica pelo Brasil em 2021, conforme os dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022. O dado alarmante aponta ainda que houve um aumento em relação ao ano anterior, quando o número foi de 227,7 mil.

A violência, é importante destacar, que não é somente física, mas também psicológica, moral e sexual. Neste contexto, além de ações de combate junto à Justiça e órgãos de segurança, por exemplo, é de extrema importância estudos e grupos de apoio, como os reflexivos.

“A metodologia do grupo reflexivo tem se espalhado pelo mundo trazendo pacificações sociais e ressignificações das relações de gênero.  Temos uma sociedade, na qual a violência se faz fortemente presente no cotidiano da sociedade. Assim como nas relações, na construção e socialização do que ser homem. O grupo reflexivo busca é, exatamente, apontar caminhos para que sujeito de forma ativa desvele a sua realidade desconstruindo, (re)construindo suas relações de forma não violenta. Essa talvez seja umas das grandes contribuições e relevância da metodologia reflexiva”, explica o coordenador do Grupo Reflexivo de Gênero da Vara de Violência contra a mulher do Tribunal de Justiça do Maranhão, psicólogo Raimundo Ferreira.

Entre os objetivos estão o de desnaturalizar a conduta violenta, trabalhando os diversos contextos em que ocorre, promovendo, dessa forma, a transformação dos padrões da masculinidade hegemônica a prevenção primária, secundária e terciária das violências através da construção de recursos e habilidades não violentas no âmbito das relações interpessoais, especialmente, as conjugais e familiares; além de contribuir para a construção de uma rede de atenção para os adolescentes. Além desta gama de intenções, o grupo reflexivo busca a responsabilização de adolescentes autores de violência, favorecendo a execução de medidas e/ou penas alternativas, como comenta Ferreira:

“A violência está tão presente no dia a dia do sujeito que não percebe que sua ação,  comportamento, relação, fala se dar de forma violenta. Está tão sedimentado na mente e no cotidiano das relações sociais que se  naturalizou a violência. Acaba que o sujeito não  percebe que seu comportamento, discurso é violento. Portanto, quando é chamado a responder sobre seu ato, seu comportamento violento usa de mecanismos como culpabilização, naturalização, racionalização por não entender seu comportamento, sua responsabilidade. A partir do processo de responsabilização que o sujeito conseguir desvelar sua realidade, seus comportamentos, atitudes, ações e relações violentas, assim como entender que há outros caminhos não violentos de vivenciar os sentidos e significados das relações”, complementa o psicólogo.

Capacitação

Em dezembro do ano passado, o Instituto Terre des Hommes Brasil (TDH)  promoveu um curso online “Construção de Grupos Reflexivos para adolescentes assistidos pelo Projeto Elos de Proteção”.

Entre os beneficiários da capacitação estiveram adolescentes que foram autores do abuso sexual, e que passaram a ser assistidos pelo Projeto Elos de Proteção, assim como familiares e/ou comunidade de apoio que o adolescente venha a considerar. Oficina formativa foi distribuída em 10 encontros com 3 horas de duração cada.

O curso teve a mentoria de Raimundo Ferreira, que finaliza com esta avaliação:

“Quando recebi o convite do Renato (Pedrosa, presidente do TDH Brasil) para trabalhar a metodologia reflexiva com adolescentes autores de violência sexual fiquei com sentimento de alegria por poder levar essa metodologia a outros profissionais que trabalham com uma clientela carente de políticas públicas, principalmente, quando se pensa em adolescentes autores de violência sexual. Haja vista, que no Brasil quase não se vê ações de intervenções que não punitivas, principalmente,  quando diz respeito a esse tipo de delito. Frente a esse tipo política se pergunta o que grades,  liberdade assistida e outras vão mudar na sexualidade, na significação da forma de estabelecer, vivenciar as relações e as masculinidades”.

O TDH com essa formação desponta, no Brasil, por buscar estruturar um serviço de intervenção com essa nova ferramenta com viés não violento, que apresenta resultados exitosos por onde é aplicada.

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